RECONHECIMENTO:
A Ribeira da Isna sempre me
fascinou, ora pela imponência, ora pela beleza. Sempre que ia pagaiar
com os meus amigos para os lados de Fernandaires, -
ao sairmos desta localidade assim que entramos no
braço ruma-se à direita ... -, sentia
uma forte atracção pela zona do "braço do Trísio", i.e., a parte Final
da Ribeira da Isna que ficou alagada pela Barragem do Castelo do Bode.
Por várias vezes com o Fausto ou o Rui por ali
pagaiámos e sempre me apeteceu parar ali, no fim da influência da
albufeira e subir a pé até me cansar, até me apetecer e o corpo clamar
por descanso. Afim de efectuar o
reconhecimento da Ribeira da Isna, muni-me de um máquina fotográfica
digital e saí de Abrantes numa sexta-feira algo cinzenta. Pelo caminho
passei no Sardoal para cavaquear um pouco com o Rui, também para planear
e informá-lo do que tencionava fazer.
Por volta das onze horas e quarenta comecei enfim a
minha caminhada ribeira abaixo. Depois de parar o carro junto ao açude
que ladeia a estrada que liga Vila de Rei à Vila da Sertã, passei a pé
para o paredão do açude. Ali, depois de tirar algumas fotografias
verifiquei quais as condições para uma largada do próprio açude, i.e.,
sair da pequena albufeira e largar pelo canal que conduz a descarga de
emergência. Na certificação de uma segunda hipótese ainda me desloquei
um pouco por ambas as margens para escolher a melhor. Findo este
reconhecimento de toda a zona que fica perto do açude desloquei-me para
jusante pela margem esquerda. O último verão extremamente quente fez
estragos e os fogos deixaram a floresta despida de vegetação, sobrando
apenas os troncos carbonizados e retorcidos pelas chamas. O mal de uns é
o bem de outros, sempre assim foi e há-de continuar a ser; por isso
embora surpreso agradecia agora, a falta do mato e da folhagem que não
me iriam dificultar a progressão nem esconder a paisagem.
Logo abaixo, no primeiro Km
após o açude, existe uma "garganta muito empedrada"
(perto de umas ruínas - as Azenhas do Charco),
i.e., a ribeira alarga um pouco, mas pelo meio "milhares de pequenos
rápidos" povoam esta garganta podendo tornar-se autênticas ratoeiras
para a progressão na água. De máquina em punho dediquei algum tempo a
estes 1000 metros de água mais mexida. Não iria ser fácil passar aqui,
já que o grau de conhecimentos daqueles que eu e o Alexandre
iríamos conduzir não era de todo elevado em águas bravas. Depois de
analisada esta parte do percurso, não fiquei mais tranquilo, já que as
minhas suspeitas confirmaram-se, pensei para comigo que iríamos tentar
na mesma, ... ela não seria assim tão difícil se antecipadamente e todos
em conjunto, montássemos um esquema de segurança.
Finda a observação um pouco
mais cuidada destes primeiros metros, continuei a deslocar-me para
jusante, até chegar a um local onde existe uma ponte pedestre muito
estreita -
Ponte do Charco
foto 22. Aqui a
ribeira contêm outro
açude, todo ele
feito em pedra. Não muito alto este seria um bom local de diversão para
todos, só que logo a seguir a este açude, a ribeira é toda ela como que
sugada para dentro de duas pedras. O seu caudal ao ser "apertado" desta
maneira abrupta, aumenta um pouco a velocidade, mas o mais complicado é
a existência de um pedregulho logo mais à frente e a configuração em s
que este toma, para logo depois passar por debaixo da referida ponte (foto
11, 16).
Depois da ponte as águas
acalmam um pouco, mas por poucos metros, pois um outro pequeníssimo
açude, que mais parece um pequeno amontoado de pedras, logo as obriga a
galgá-lo. Aqui o leito da ribeira também alarga um pouco, mas as
inúmeras árvores e silvados, obrigam a água a passar toda à
esquerda, ... precipitando-se esta pelo vale fora, ...
(Várzea Lousa à esquerda e Cerrado do Linhal à
direita).
Não continuei mais o
reconhecimento, a hora já ia adiantada e ainda tinha outras coisas a
fazer. Esta primeira visão do local, já me dava uma ideia do que iríamos
encontrar pela frente. Eu e o Alexandre teríamos que redobrar a
segurança no dia em que viéssemos, afim de que tudo corresse pelo melhor.
Regressei então pela margem oposta para usufruir de outro ângulo, obter
uma percepção diferente deste curso de água.
JLaia
07
Março 2007 |